terça-feira, 13 de maio de 2014

Não estar só, uma questão de sobrevivência

Gostei demais deste texto. Muito  elucidativo, mesmo. Por isso transcrevi, aqui.

 

 

Existem aqueles que não gostam de estar sós; existem outros que não podem estar sós. Eis uma grande diferença. Conheço pessoas que preferem a companhia de amigos a ficarem sós porque existe o prazer em compartilhar. Conheço, por outro lado, pessoas que necessitam do “outro” como um elemento de sobrevivência; para estas, estarem sozinhas é uma experiência dolorosa que tem o sentido de desamparo. É a esse grupo de pessoas que irei dedicar algumas reflexões.
 
 Acompanhei por algum tempo uma jovem que sofria muito por não se sentir amada. Ela precisava, desesperadamente, de alguém que a reconhecesse nas coisas mais simples. Era esse “outro” que emoldurava o seu “ser” dando-lhe um contorno humano; sem esse ela se sentia “nada”. Diante dessa suprema necessidade de “ser”, ela parecia não se importar quem, de fato, era esse “outro”. Essa jovem se envolvia em situações de risco já que não tinha competência emocional para escolher seus parceiros amorosos e seus amigos; sua única possibilidade era a de ser escolhida. Essa jovem somente podia enxergar o “outro” de maneira distorcida, através das lentes da idealização. Através de um truque, forjado a partir da necessidade extrema de sobrevivência psíquica, ela encaixava, ilusoriamente, o seu novo parceiro aos pré-requisitos do seu ideal; todos se tornavam príncipes encantados e salvadores da pátria. Assim, eram construídas relações frágeis que não se sustentavam por muito tempo. Todas as vezes que este ciclo se completava havia muita dor.
 
 A “capacidade de estar só” é uma aquisição que adquirimos na infância como resultado das nossas experiências de amor. Lá na tenra infância, o bebê, aos poucos, vai internalizando as suas figuras de amor e assim ele não precisará, tanto, da presença física da mamãe e/ou dos seus amores, pois aquelas figuras estarão dentro dele como um registro. Isso significa que é no bebê/criança que são inauguradas a confiança em si mesmo, a certeza de ser importante para o mundo, o conforto de estar consigo mesmo sem estar na solidão e a esperança na vida. Quando essa aquisição falha, por uma série de razões ambientais, resulta em adultos ávidos por amor. Eles se relacionam com mundo como bebês que nos primórdios do desenvolvimento viveram o afastamento do ser amado como uma experiência das mais devastadoras de “não existir”.
 

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